quinta-feira, 22 de novembro de 2007

menino das seis cordas

sol sol sol. pra quê tanto sol assim, meu deus?! ele via pela janela as pessoas que passavam na rua com testas enrugadas pelo sol. maldita hora que tinham deixado ele sentar ali, onde o sol batia mais forte. de certo que era pra ver se ele derretia. mas eles não sabiam que era exatamente ali onde o sol batia, que batia também a brisa mais leve e doce que se pode haver. ele não lembrou disso exatamente, mas sabia que era a brisa que 'desaguniava'.

pra queê estudar aquilo, meu deus?! ele não via utilidade nenhuma em decorar a tabuada. decorar era tão feio e difícil. ele só sabia decorar quando ninguém mandava. sabia uma porção de música e até uns versos que a mãe ensinou. ensinou como quem num quer nada, porque conhecia o filho que tinha. queria ver o menino falar bonito que nem o povo da tevê. e num é que o menino tinha talento? vivia falando os versinho pelos canto, cantava uns sambinha velho e ela nem entendia direito. um dia perguntou: 'menino, essa música é do tempo que eu era noviinha! onde cê aprendeu isso?' ele riu e disse: 'aprendi vendo, mãe.'
e era assim que ele aprendia. só vendo. e como via! reparava coisa como ninguém mais. era danado que só. mas ficava aguniado era de ter que ficar com a bunda grudada na cadeira da escola vendo os outros repetirem a professora, enquanto a mãe lavava aquela pilha imensa de roupa sozinha. ficava entediado porque num dava conta, num podia ser assim. queria era sair pra fora. levantar e sair dali correndo, ganhar a liberdade que ele nem sabia o que significava. ele gostava da escola. gostava mesmo, tinha boas notas e tudo o mais, mas sentar na janela fazia ele pensar nessas coisas todas.

pra queê tanta nuvem, meu deus?! mas logo mudava de idéia, as nuvens refrescavam tudo. ou pelo menos era o que ele achava. ele olhava as nuvens brancas e o azul do céu, e lembrava de bola de gude e da mãe. mãe era bonita que só vendo, tinha um cabelo bonito que caía no rosto quando ela tava feliz. e ai ele abraçava ela e cantava porque sabia que ela gostava de ver ele cantar. aprendia as músicas pra ela. gostava de deixar feliz, fazia só pra agradar mesmo. mas no fundo o que ele mais gostava era dos versinho. as nuvens deixavam ele com vontade de fazer verso também. e foi olhando pra elas, espremendo o olhinho por causa do sol, que ele decidiu que ia ser gente grande. ia mesmo, só pra agradar a mãe. e ia ser grande fazendo os versinho que ele tanto gostava, que tanto queria, que tanto escrevia todas as vezes que olhava pro céu.


ps: bruninho, desculpa o plágio. roubei seu menino pra mim ;)

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

bem passado

hoje é dia de finados. sempre achei estranho isso, um dia de finados ou para os finados. eles não tem calendário, pra contar dia após dia, quantos dias faltam pra ter um dia pra eles. eu não cultivo mortos, nem túmulos, nem flores. e por isso, o dia não teve nenhum cheiro de morte. aliás, enfim, a chuva veio. e dizem os mais velhos ou mais atentos, que nesse dia ela sempre vem. "é a chuva de finados", diria a minha avó.
a chuva levou consigo o calor e trouxe renovação. é bonito ver como as árvores sempre ficam mais verdes, depois dela. meu antigo quintal sempre ficava mais alegre depois da chuva, dava pra sentir. a gente olhava da janela e via a grama sorrir.
veio a chuva, e a saudade. essa saudade doce que é relembrar tempos passados, relembrar momentos, cheiros, cores, poses pra fotografia. chamam de saudosismo. chamem-me de saudosista. essas lembranças chegam em longas histórias até os meus ouvidos, como um filme em preto e branco que eu nunca vi. o meu corpo se arrepia e o meu coração respira lento pra absorver melhor.
o dia chegaria ao final perfeitamente encaixado num disco de vinil. ou num daqueles velhos sambas que só eu pareço ouvir.