quarta-feira, 18 de junho de 2008

o anacrônico

acordou num susto e sentou-se na cama. graças a deus foi só um sonho! não gostava desses sonhos tão reais, devia existir sempre aquela separação do inconsciente que te faz ter consciência de que aquilo não é de fato real é só obra dos seus pensamentos que não paravam nem na hora de dormir, era tudo consciente e inconsciente brincando de pique-pega. ah, calma! precisava se acalmar, respirar fundo. rodou a cabeça de olhos fechados, respirou lentamennnte. esticou os braços, espreguiçou. esticou os pés, sentiu que eles pesavam. pesavam. pensavam(?). pousou os olhos num canto do quarto e ficou. pronto, agora sim. agora passou.
levantou o corpo devagar. não era mesmo que seus pés pesavam?! a cabeça pesava também. definitivamente, precisava colocar seu filtro dos sonhos no sol. precisava devolver o livro pra biblioteca, mandar o email, comprar as frutas, visitar a mãe. precisava de um banho quente, sem se deixar ferver. despiu-se devagar. era toda devagar pela manhã. ligou o chuveiro. prendeu os cabelos com uma caneta. pôs os pés na água. podia até ouví-los chiar. olhou. olhou de novo. ai deus! chegou mais perto. vê direito! ai deus. cumprira-se. metamorfoseara-se.
nasceram as tais asas nos pés.

domingo, 8 de junho de 2008

o mínimo

ela acordava e permanecia de olhos fechados, que era pra se adaptar. depois trançava os cabelos entre os dedos, entre os ombros e entre os próprios cabelos, e pensava que seria (mais uma vez) mais um dia igual: café forte e pão com manteiga, feijão com arroz e bife e batata, pão de queijo sem mais nada, sopa do que tiver. e os entreatos, é claro. mas para ela, eles eram ainda mais dispensáveis e desinteressantes, por serem tão exatamente sempre-iguais.
o que ela queria mesmo? aah, era poder caminhar do lado contrário da rua. ler o seu livro preferido pela décima nona vez, no meio de uma praça, de papo pro ar. sentar numa janela e ver a grama lááá embaixo, e sentir o vento entre seus pés e o sol entre seus cabelos soltos. 'pegar carona numa cauda de cometa' e contar todas as estrelas do céu sem ter medo das verrugas nos dedos. ela queria encontrar o pote de ouro atrás do arco-íris. ou o amor atrás de uma árvore.