terça-feira, 2 de setembro de 2008

em garrafas

todas as minhas palavras estão presas em garrafas. engarrafadas.
e todas as garrafas estão guardadas numa mesma estante, alta e comprida.
às vezes eu estico ao máximo as minhas mãos para poder alcançá-las; às vezes eu fujo delas.

cuspo as palavras que fervilham em mim e as exponho todas, nuas cruas secas feias e frias. ficam todas ali em cima da mesa, gritando por mim. escolho as que não me engasgam, ou as que me engasgam mais, e as engulo outra vez. bebo-as delicadamente. degusto cada sílaba, cada som, cada primeira intenção de significado. é preciso digerí-las. e aí sim elas estão prontas.
vomito-as lindas, com linhas, entrelinhas, linhas tortas. e elas dançam sem medo e com vontade, giram, jogam os braços pro ar, sentem a sutileza dos ventos entre seus contornos.
e aí, nesse momento de encanto estrelar eu as absorvo. e quem sabe muito duramente, as entendo. só às vezes entendo porque vieram, mas sempre sei que estão ali. me fazem companhia noite a dentro, dia a fora. perpetuam-se e propagam-se no mesmo ar de que foram feitas. seguro suas mãozinhas frágeis, como numa ciranda, e as aprisiono ali: nas garrafas.
que é pra poder vê-las de todo e qualquer lugar que eu vá. que é pra poder deixá-las em paz. que é pra poder deixá-las brilhar.

2 comentários:

ana Lu disse...

eu adoro ler você ;*

Anônimo disse...

isso é..., me lembra... e me faz.... ;D