sábado, 20 de dezembro de 2008

o buraco negro e a falta de ar

o que eu queria mesmo nem eu sei. mas deve ter gosto de chocolate e café. e talvez um pouco de mel também. tem essa vontade louca de querer tanto ao mesmo tempo. e de quase sempre não querer nada. nada, fora todo o resto.
tem sempre um buraco negro que se abre no meu peito pelas coisas que eu perdi sem nunca ter tido. talvez seja uma espécie de desesperança, ou apenas uma dose de pessimismo e realidade que me contam a verdade desse nunca ter tido. pessimismo e realidade andam quase sempre juntos. e não é que eu seja uma pessoa pessimista, mas é que as vezes eu sou mesmo assim, preto no branco.
tem ainda as coisas que eu tenho, as que eu não tenho, as que eu minto ter. todas elas eu quero. todas, absolutamente todas, por completo, recheadas até a borda. e talvez seja só pra depois ter me arrependido do querer. ou talvez por simples necessidade de se querer alguma coisa, essa necessidade que funciona como guincho, como uma corda que leva a gente pra frente. não querer nada deve ser sem graça porque a gente acaba ficando parado no lugar.
é por isso que eu quero tanto minhas bombas extra de ar, quero vira-tempos pra poder ser quatro de uma vez, quero minha casa, quero colo de mãe, quero fazer alguma coisa que seja verdade, quero escrever alguma coisa que mude a vida de alguém, quero tomar conta de tudo sem ser uma rabugenta por causa disso, quero ser menos chata e boazinha, quero falar bem menos, escrever mais e parar de fantasiar as coisas.
o problema nessa história de querer é que sempre tem umas horas, umas horas tristes e demoradas, onde querer tanto assim incomoda. e dói. e fere porque o espelho reflete as suas duas mãos atadas, sua boca trancada e o seu peito então, nem se fala! ele já é quase que só buraco negro.
e hoje eu não quero ter forças pra procurar meus lápis e canetas coloridos pra pintá-lo. eu não quero querer nada a não ser dormir. eu não quero sair, nem me mexer, por favor me deixem só aqui na minha cama escorregando com o meu edredom cor de rosa, a minha tosse que não passa e meus livros novos me olhando de dentro do armário com cara de dó. eu não quero música nem poesia. e nem ninguém por perto. ninguém que não me abrace até fazer passar todo o meu mal e toda a fome do mundo, que não me diga o quanto não se importa que eu chore e que meu nariz escorra tanto enquanto eu choro, que não entenda quando eu acordar no meio da noite querendo recomeçar toda essa crise, e que não me ache uma louca por acordar amanhã sem nem me lembrar de toda a falta de ar que eu senti hoje.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

paradoxo

..Eu vejo em você um paradoxo desesperado. Você é humilde a tal ponto de achar que não consegue nada que realmente quer, e sem querer você mostra um ar superior, que não aceita falhas, que não aceita perder (por mais normal e comum que seja). Pára de se achar pior em tudo, você só é um ser humano, em algumas situações mais vulnerável, em outras mais forte do que eu poderia acreditar. Pára de justificar a vida das pessoas e não facilitar a sua. Permita-se errar, por favor, porque se não sua vida vai ser uma eterna luta consigo mesma."

eu acho que ela tem absoluta razão quando diz que vê em mim um paradoxo desesperado. essa foi a coisa mais sensata que eu já ouvi sobre mim mesma. e foi bom ler isso porque me fez ver que não sou só eu que tenho consciência disto em mim. talvez ela, e até eu, não saibamos a dimensão, mas a exatidão disto eu sei. e ela me pegou de jeito.


(*ela: a exatidão e a dona da poesia no puxão de orelha, da inocência mais sincera, da pureza mais sensibilizante; minha irmã de coração e parceira pra sempre)