eu sempre sinto a falta dele quando toca Carla Bruni, que eu acho que ele nem gostaria, mas é francês e ele é meu único amigo francês. eu sempre procuro por ele com seu suco de laranja doce no recreio e esqueço que ele não fica mais ali e a blusa de frio agora é minha.
eu sinto a falta dele de um jeito estranho, quando toca O Rappa e eu lembro dos olhos brilhando e pulando no show. esse é meu amigo desde que eu nasci, só pode. pq eu gostava dele antes de saber que ele também gostava de mim e bem antes de saber que ele ia levar o meu menino pra mim naquele outro show.
o outro eu sinto falta pq nunca tive. o dia dele tá chegando rápido e eu vou sentir ainda mais falta quando ele virar carioca de novo. ele me falou de Nephilins e meninas ladras de palavras e meninos com amigos imaginários e de sonhos, muitos deles. e eu devo tudo a ela, e ao Coldplay, é claro.
dele eu sinto falta toda vez que ele não me abraça no recreio ou quando ele some pra ter outros amigos. ninguém mais gosta do professor de português e decora coisas inúteis e cospe na gente como ele. e é claro, não posso deixar de dizer, ninguém tem uma barba tão legal quanto a dele: o menino que me ensinou os Móveis Coloniais.
aquele eu sinto falta quando os olhos perdem a cor ou quando ele deixa a alma em casa. mas eu me acostumo, ele acaba voltando e me abraça igual criança sem doce. eu me lembro de nós dois correndo feito as crianças que realmente éramos pela escadaria do prédio alheio e dele cantarolando a musiquinha do Shrek no caminho mudo que percorremos por tanto tempo.
deles, pq não dá pra falar de um sem o outro e o outro, eu sinto falta quando somem, ou quando se calam, ou quando esquecem dos mimos. esses são a ausência do tempo ruim. e pra eles tem aquelas coisas bonitinhas que eles inventam com o violão e um fichário-bongô.
sinto umas faltas velhas, de tempos em que a gente era criança e não sabia mais. umas vozes cantando músicas de ônibus, outras cantando pra me fazer cantar, outras pra me ensinar a dança exata, umas outras (ditas) canções de amor.
e tem ainda uma porção de saudades pra chegar.
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
a parede lilás
havia uma pilha de jornais no canto do quarto. jornais, a velha bolsa listrada, e uma pequena árvore que não era mais dela. uma pilha de jornais e um punhado de cabelos caídos, perdidos, pelo chão. ela mesma os jogava ali, inconscientemente.
havia uma porção de números a calcular e umas poucas palavras úteis pra ler. viu a pilha de jornais, e suspirou pela pilha de livros. três. lidos, eram um e meio. ela precisava terminá-los urgentemente mas ainda tinha os tais números.
colocou a mesa no centro do quarto, a cadeira de frente pra janela, naquele ritual solene de todos os dias. não cantava, não sorria, mas resmungava baixinho, em inglês. encontrou as folhas fora do lugar. 'mas que diabos elas..?!' ah sim, tinha sido ele. com seus olhos barulhentos e suas mãos de textura desconhecida, que ela fazia questão de não querer conhecer.
as pernas doíam do dia anterior. a cabeça doía dos dias... ainda ouvia os números, as unhas, o suor. ouvia a voz que nada dizia, e que ela tanto esperava, acender e apagar as luzes sem perceber. tornava a se levantar e as acendia, uma outra (e quem sabe a última) vez.
havia uma menina de unhas curtas e cabelos encaracolados presos no alto da cabeça, parada no meio do quarto. os óculos afundados na cara, ela afundada nas próprias palavras, parindo o texto perseguidor.
pronto. ela agora podia voltar aos números. agora, tudo estava igual: a pilha de jornais, os livros escondidos no armário, a parede lilás, os sorrisos desbotados. e a velha bola de pêlos na garganta.
havia uma porção de números a calcular e umas poucas palavras úteis pra ler. viu a pilha de jornais, e suspirou pela pilha de livros. três. lidos, eram um e meio. ela precisava terminá-los urgentemente mas ainda tinha os tais números.
colocou a mesa no centro do quarto, a cadeira de frente pra janela, naquele ritual solene de todos os dias. não cantava, não sorria, mas resmungava baixinho, em inglês. encontrou as folhas fora do lugar. 'mas que diabos elas..?!' ah sim, tinha sido ele. com seus olhos barulhentos e suas mãos de textura desconhecida, que ela fazia questão de não querer conhecer.
as pernas doíam do dia anterior. a cabeça doía dos dias... ainda ouvia os números, as unhas, o suor. ouvia a voz que nada dizia, e que ela tanto esperava, acender e apagar as luzes sem perceber. tornava a se levantar e as acendia, uma outra (e quem sabe a última) vez.
havia uma menina de unhas curtas e cabelos encaracolados presos no alto da cabeça, parada no meio do quarto. os óculos afundados na cara, ela afundada nas próprias palavras, parindo o texto perseguidor.
pronto. ela agora podia voltar aos números. agora, tudo estava igual: a pilha de jornais, os livros escondidos no armário, a parede lilás, os sorrisos desbotados. e a velha bola de pêlos na garganta.
segunda-feira, 6 de agosto de 2007
tempos de agora
agora ele só vai ler se quiser. e falar se quiser. agora agosto dói na gente. e em mim, mais que em qualquer um. agora a gente senta e espera. espera que chega e passa os quatro dias praquilo, as quinze semanas praquilo outro, os muitos minutos pra nem-te-conto-o-quê. agora eu não sei mais se quero, eu não sei mais se espero. mas quero. agora é hora de ir dormir.
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