havia uma pilha de jornais no canto do quarto. jornais, a velha bolsa listrada, e uma pequena árvore que não era mais dela. uma pilha de jornais e um punhado de cabelos caídos, perdidos, pelo chão. ela mesma os jogava ali, inconscientemente.
havia uma porção de números a calcular e umas poucas palavras úteis pra ler. viu a pilha de jornais, e suspirou pela pilha de livros. três. lidos, eram um e meio. ela precisava terminá-los urgentemente mas ainda tinha os tais números.
colocou a mesa no centro do quarto, a cadeira de frente pra janela, naquele ritual solene de todos os dias. não cantava, não sorria, mas resmungava baixinho, em inglês. encontrou as folhas fora do lugar. 'mas que diabos elas..?!' ah sim, tinha sido ele. com seus olhos barulhentos e suas mãos de textura desconhecida, que ela fazia questão de não querer conhecer.
as pernas doíam do dia anterior. a cabeça doía dos dias... ainda ouvia os números, as unhas, o suor. ouvia a voz que nada dizia, e que ela tanto esperava, acender e apagar as luzes sem perceber. tornava a se levantar e as acendia, uma outra (e quem sabe a última) vez.
havia uma menina de unhas curtas e cabelos encaracolados presos no alto da cabeça, parada no meio do quarto. os óculos afundados na cara, ela afundada nas próprias palavras, parindo o texto perseguidor.
pronto. ela agora podia voltar aos números. agora, tudo estava igual: a pilha de jornais, os livros escondidos no armário, a parede lilás, os sorrisos desbotados. e a velha bola de pêlos na garganta.
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
vc é mais impressionante do que eu pensava, sabia? mais uma vez.
*deve ser uma gracinha vc resmungando em inglês :}
sempre volta ao normal.
Postar um comentário